O papel político do jornalismo

As “convicções” da Gazeta do Povo e a produção da notícia

Autores

  • Camilla Quesada Tavares Universidade Federal do Maranhão

DOI:

https://doi.org/10.21878/compolitica.2020.10.2.324

Palavras-chave:

Gazeta do Povo, Linha editorial, Prática profissional

Resumo

O trabalho tem como objetivo discutir o papel das convicções da Gazeta do Povo na rotina de produção jornalística do referido veículo. Com o anúncio do fim do impresso veio também a apresentação pública das convicções sobre determinados temas, como o papel do estado na sociedade, a constituição familiar e o aborto. O novo projeto do veículo é a primeira iniciativa do tipo na América Latina, e é baseado no modelo de negócios voltado para as assinaturas digitais e não para a publicidade, tendo como foco a audiência nacional. Para atingir os objetivos propostos, a pesquisa adota a metodologia qualitativa, a partir da análise das entrevistas em profundidade realizadas com 15 profissionais entre outubro de 2017 e agosto de 2018. Os resultados indicam que as convicções incidem de formas distintas nas editorias, e que há um núcleo constituído de editorias chaves que têm por objetivo “vender” as convicções a partir da produção jornalística. Isso demonstra o papel político desempenhado pelo jornalismo praticado dentro da Gazeta do Povo.

Referências

ALBUQUERQUE, A de. “Um outro quarto poder”: imprensa e compromisso político no Brasil. Revista Contracampo, n. 12, p. 1-36, 2000.
ALBUQUERQUE, A de. A modernização autoritária do jornalismo brasileiro. Revista Alceu, v. 10, n. 20, pp. 100-115, 2010.
ALBUQUERQUE, A de. Journalism and Multiple Modernities: The Folha de S. Paulo Reform in Brazil. Journalism Studies. Ahead of Print. p. 1-18, 2018.
ALBUQUERQUE, A de. Protecting democracy or conspiring against it? Media and politics in Latin America: A glimpse from Brazil. Journalism, v. 20, n. 7, p. 906-923, 2019. Doi: https://doi.org/10.1177/1464884917738376.
ALDÉ, A; VASCONCELLOS, F. Ao Vivo, De Brasília: Escândalo Político, Oportunismo Midiático E Circulação De Notícias. Revista De Ciências Sociais, v. 39, n. 2, p. 61-69, 2008.
ALSINA, M. A construção da notícia. Petrópolis: Vozes, 2009.
ALVES, M. S. Campanha “não oficial”: A Rede Antipetista na eleição de 2014. Revista Fronteiras, v. 19, p. 102-119, 2017.
AMADO, A; WAIBORD, S. Divided we stand: Blurred boundaries in Argentine journalism. In CARLSON, M; LEWIS, S. (Eds.). Boundaries of Journalism: Professionalism, Practices, and Participation. New York: Routledge, 2015, p. 51-66.
AMOSSY, R. Da noção retórica de ethos à análise do discurso. In: AMOSSY, R. Imagens de Si no Discurso: A construção do ethos. Sao Paulo: Contexto, 2005.
ARISTÓTELES. Retórica. Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2005.
ASSOCIAÇÃO Nacional dos Jornais (ANJ). A indústria jornalística brasileira em 2017. 2017. Disponível em: https://www.anj.org.br/site/servicos/menindjornalistica/114-cenarios/742-a-industria-jornalistica-brasileira-em-2017.html. Acesso em: 10 de abril de 2020.
ATHANÁSIO, E. A corrupção na opinião do jornal: o discurso dos editoriais da Folha de S. Paulo e da Gazeta do Povo sobre a Lava Jato. Temática, ano XIII, n. 8, p. 126-145, 2017.
BECKER, C. et al. Manifestações e votos sobre impeachment de Dilma Rousseff na primeira página de jornais brasileiros. Revista Latinoamericana de Ciencias de la Comunicación, v. 13, n. 24, p. 96-113, 2016.
BENEDETI, C. A. A qualidade da informação jornalística: Uma análise da cobertura da grande imprensa sobre os transgênicos em 2004. 167 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Faculdade de Comunicação, Universidade de Brasília, Brasília, 2006.
BEZERRA, H. D. Atores políticos, informação e democracia. Opinião Pública, v. 14, n. 2, p. 414-431, 2008.
BLANCO, V. Sampedro. Opinión pública y democracia deliberativa: médios, sondeos y urnas. ISTMO: 2000
BOURDIEU, P. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 1997.
BREED, W. Controle social na redação. Uma análise funcional. In: TRAQUINA, Nelson. (org.). Jornalismo: questões, teorias e "estórias". 2ª edição. Lisboa: Vega, 1999, p. 91-100.
CHALABY, J. K. Journalism as an anglo-american invention: a comparison of the development of french and anglo-american journalism, 1830s-1920s. European Journal of Communication, v. 11, n. 3, p. 303-326, 1996.
CHARAUDEAU, P. Discurso Político. São Paulo: Contexto, 2008.
CHARRON, J.; BONVILLE, J. Natureza e transformação do jornalismo. Florianópolis: Insular; Brasília: FAC Livros, 2016.
COOK, T. E. O jornalismo político. Revista Brasileira Ciência Política, n. 6, p. 203-247, 2011. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-33522011000200009.
DAHL, R. Sobre a Democracia. Brasília: Editora UNB, 2009.
DE MATEO, R.; BERGÉS, L.; GARNATXE, A;. Crisis, what crisis? The media: business and journalism in times of crisis. tripleC, v. 8, n. 2, pp. 251-274, 2010.
DUARTE, J. Entrevista em profundidade. In: DUARTE, J.; BARROS, A. (Orgs). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2011, p. 62-83.
FEDERAÇÃO Nacional dos Jornalistas (FENAJ). Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. 2007. Disponível em: https://fenaj.org.br/wp-content/uploads/2014/06/04-
codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileiros.pdf.
FERNANDES, C. M. Da mídia impressa à audiovisual: o agendamento intermidiático do escândalo da Petrobras no Jornal Nacional. Líbero, v. 18, n. 35, p. 111-122, 2015.
FONTES, G. S.; FERRACIOLI, P.; SAMPAIO, R. Petrolão na mídia: o enquadramento de 18 meses da Operação Lava Jato nas revistas impressas. Revista Agenda Política, v. 4, n. 3, p. 238-266, 2016.
GALLEGO, E. S.; ORTELLADO, P.; MORETTO, M. Guerras culturais e populismo antipetista nas manifestações por apoio à operação Lava Jato e contra a reforma de previdência. Em Debate: periódico de opinião pública e conjuntura política, v. 9, n. 2, p. 35-45, 2017.
GIBSS, G. Análise de dados qualitativos. Porto Alegre: Artmed, 2009.
GUERRA, J. L. O nascimento do jornalismo moderno: uma discussão sobre as competências profissionais, a função e os usos da informação jornalística. Anais do 26º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Belo Horizonte-MG, setembro de 2003. São Paulo: Intercom, 2003.
HABERMAS, J. Mudança estrutural da Esfera Pública. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.
HALLIN, D. The Passing of the “High Modernism” of American Journalism 1992. Journal of Comunication, v. 42, n. 3, pp. 14-25, 1992.
HALLIN, D.; MANCINI, P. Comparing media systems: three models of media and politics. Nova York: Cambridge University Press, 2004.
J1, editor. Entrevista I. [out. 2017]. Entrevistadora: Camilla Quesada Tavares. Ponta Grossa, 2017. 1 arquivo .mp3 (102 min.).
J2, repórter. Entrevista I. [out. 2017]. Entrevistadora: Camilla Quesada Tavares. Curitiba, 2017. 1 arquivo .mp3 (98 min.).
J3, editor. Entrevista I. [out. 2017]. Entrevistadora: Camilla Quesada Tavares. Ponta Grossa, 2017. 1 arquivo .mp3 (102 min.).
J4, repórter. Entrevista I. [dez. 2017]. Entrevistadora: Camilla Quesada Tavares. Ponta Grossa, 2017. 1 arquivo .mp3 (80 min.).
J5, diretor de redação. Entrevista I. [jan. 2018]. Entrevistadora: Camilla Quesada Tavares. Ponta Grossa, 2018. 1 arquivo .mp3 (52 min.).
J6, editor. Entrevista I. [jan. 2018]. Entrevistadora: Camilla Quesada Tavares. Ponta Grossa, 2018. 1 arquivo .mp3 (84 min.).
J7, repórter. Entrevista I. [jan. 2018]. Entrevistadora: Camilla Quesada Tavares. Ponta Grossa, 2018. 1 arquivo .mp3 (67 min.).
J8, repórter. Entrevista I. [jan. 2018]. Entrevistadora: Camilla Quesada Tavares. Ponta Grossa, 2018. 1 arquivo .mp3 (87 min.).
J9, editor. Entrevista I. [jan. 2018]. Entrevistadora: Camilla Quesada Tavares. Ponta Grossa, 2018. 1 arquivo .mp3 (90 min.).
J10, editor. Entrevista I. [abr. 2018]. Entrevistadora: Camilla Quesada Tavares. Ponta Grossa, 2018. 1 arquivo .mp3 (50 min.).
J11, repórter. Entrevista I. [mai. 2018]. Entrevistadora: Camilla Quesada Tavares. Ponta Grossa, 2018. 1 arquivo .mp3 (130 min.).
J12, editor. Entrevista I. [mai. 2018]. Entrevistadora: Camilla Quesada Tavares. Ponta Grossa, 2018. 1 arquivo .mp3 (83 min.).
J13, editor. Entrevista I. [jun. 2018]. Entrevistadora: Camilla Quesada Tavares. Ponta Grossa, 2018. 1 arquivo .mp3 (91 min.).
J14, editor. Entrevista I. [ago. 2018]. Entrevistadora: Camilla Quesada Tavares. Ponta Grossa, 2018. 1 arquivo .mp3 (103 min.).
J15, editor. Entrevista I. [ago. 2018]. Entrevistadora: Camilla Quesada Tavares. Ponta Grossa, 2018. 1 arquivo .mp3 (88 min.).
MARQUES, J. C. A mídia moderna entre a importância da informação e a dependência do anunciante (a lógica mercantil-jornalística na Folha de S. Paulo). Rumores, v. 1, n. 1, p. 1-17, 2007.
MATOS, O. V. H. de; FORMENTIN, C. N. Veja e CartaCapital: a polarização política das páginas às ruas. Revista Em Debate (UFSC), v. 16, pp. 15-40, 2016.
MEYER, P. The vanishing newspaper: saving journalism in the information age. 2 ed. Columbia: University of Missouri Press, 2009.
MELLADO, C. et. al. Investigating the Gap between Newspaper Journalists’ Role Conceptions and Role Performance in Nine European, Asian, and Latin American Countries. The International Journal of Press/Politics, OnlineFirst, p. 1-24, 2020. DOI: https://doi.org/10.1177/1940161220910106
MICK, J; KAMRADT, J. O fim da notícia: A monopolização da mídia e o trabalho dos jornalistas: o jornal A Notícia (SC) sob o comando da RBS. Florianópolis: Insular, 2017.
MIGUEL, L. F. Um ponto cego nas teorias da Democracia: os meios de comunicação. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, n. 49, 2000.
PINTO, P. A. Brasil e as suas mídias regionais: estudos sobre as regiões Norte e Sul. Rio de Janeiro: Editora Multifoco, 2017.
PEW Research Center. U.S. Media Polarization and the 2020 Election: A Nation Divided. 2020. Disponível em: https://www.journalism.org/2020/01/24/u-s-media-polarization-and-the-2020-election-a-nation-divided/.
POELL, T; VAN DIJK, J. Social media and journalistic independence. In: BENNET, J.; STRANGE, N. (Eds). Media Independence: Working with Freedom or Working for Free?.
Londres: Routledge, p. 182-201, 2014.
PRUDENCIO, K.; RIZZOTTO, C.; SAMPAIO, R. A Normalização do Golpe: o esvaziamento da política na cobertura jornalística do “impeachment” de Dilma Rousseff. Contracampo, v. 37, n. 02, p. 08-36, 2018.
RAMAKER, T.; VAN DER STOEP, J.; DEUZE, M. Reflective practices for future journalism: the need, the resistance and the way forward. Javnost - The Public, v. 22, n. 4, p. 345-361, 2015.
ROUDAKOVA, N. Losing pravda. Ethics and the press in post-truth Russia. Cambridge: Cambridge University Press, 2017.
SALOMÃO, M. O constrangimento nosso de cada dia: o jornalismo e os constrangimentos organizacionais. Mediação, v. 7, n. 6, p. 132-142, 2007.
SCHUDSON, M. Descobrindo a notícia. Petrópolis: Vozes, 2010.
SHOEMAKER, P.; VOS, T. Gatekeeping Theory. New York: Routledge, 2011.
SILVA, C. E. L. O adiantado da hora. A influência americana sobre o jornalismo brasileiro. São Paulo: Summus, 1991.
STOUD, N. J. Niche news: the politics of news choice. New York: Oxford University Press, 2011.
TRAQUINA, N. Teorias do Jornalismo: por que as notícias são como são. 2. ed. Florianópolis: Insular, 2005.
TUCHMAN, Gaye. La produción de la noticia. Estudio sobre la construcción de la realidad. Barcelona: Editorial Gustavo Gilli, 1983.
VAN DIJK, T. How Globo media manipulated the impeachment of Brazilian President Dilma Rousseff. Discourse & Communication, v. 11, n. 2, p. 199–229, 2017. DOI:
https://doi.org/10.1177/1750481317691838
WAISBORD, S. Scandals, Media, and Citizenship in Contemporary Argentina. American Behavioral Scientist, v. 47, n. 8, p. 1072-1098, 2004. DOI:
https://doi.org/10.1177/0002764203262278.
WHITE, D. M. O gatekeeper: uma análise de caso na seleção de notícias. In: TRAQUINA, N. (Org.). Jornalismo: questões, teorias e "estórias". Lisboa: Vega Editoria, 1999, p. 201-212.
WU, S. Uncovering alternative ‘journalism crisis’ narratives in Singapore and Hong Kong: When state influences interact with Western liberal ideals in a changing media landscape. Journalism. Ahead of Print, p. 1-17, 2018.

Downloads

Publicado

2020-09-23

Como Citar

Tavares, C. Q. (2020). O papel político do jornalismo: As “convicções” da Gazeta do Povo e a produção da notícia. Compolítica, 10(2), 167–192. https://doi.org/10.21878/compolitica.2020.10.2.324