“Mesmo solto, Lula nunca será livre”:

o cerco ao inimigo em grupo bolsonarista no Telegram

Autores

  • Priscilla Cabral Dibai Universidade Federal da Bahia

DOI:

https://doi.org/10.21878/compolitica.2021.11.1.452

Palavras-chave:

Jair Bolsonaro, Lula, STF, grupo on-line, Telegram

Resumo

Este artigo discute a repercussão em torno da soltura da prisão do ex-presidente Lula, em comunidade on-line de partidários de Jair Bolsonaro, no Telegram. Além dos sentidos e inimigos construídos, foi observado ainda certos padrões comunicativos e o potencial para a radicalidade existente no grupo. Por meio da análise de conteúdo, foi detectada uma contundente narrativa de indignação e inconformismo envolvendo o STF e Lula, que têm suas imagens atacadas e desacreditadas. Os partidários do grupo tendem a usar o recurso da desinformação intencional, bem como linguagem ofensiva para se referir e modalizar os adversários, além de superestimar o próprio poder e o líder, construindo distintas saídas para a derrota: de reanimação da militância a pedidos de intervenção militar.

Referências

Referências
ALBRECHT, S. et al. Introduction. In FIELITZ, M. e THURSTON, N.(eds). Post-Digital Cultures of the Far Right Online Actions and Offline Consequences in Europe and the US. Deutsche Nationalbibliografie, 2019, p. 7-24.
ALMEIDA, R. A onda quebrada: evangélicos e conservadorismo. São Paulo: Cadernos Pagu, n. 50, 2017. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/cpa/n50/1809-4449-cpa-18094449201700500001.pdf. Acesso 13/12/17.
______. Bolsonaro presidente: Conservadorismo, evangelismo e a crise brasileira. Novos estudos Cebrap: São Paulo, v.38, n.1, jan./abr., 2019, p. 185-213.
BETZ, H. The New Politics of Resentment: Radical Right-Wing Populist Parties in Western Europe. Comparative Politics, vol. 25, n. 4, 1993, p. 413-427.
BURSZTYN, V. e BIRNBAUM, L. Thousands of Small, Constant Rallies: A Large-Scale Analysis of Partisan WhatsApp Groups. IEEE/ACM International Conference on ASONAM, Vancouver, Canadá, 2019, p. 484-488.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
BAUER, M. Análise de conteúdo clássica: uma revisão. In BAUER, Martin; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Rio de Janeiro: Vozes, 2ª ed., 2002 (pp 189-217).
BORGES, A. e VIDIGAL, R. Do lulismo ao antipetismo? Polarização, partidarismo e voto nas eleições presidenciais brasileiras. Campinas: Opinião Pública, v. 24, n. 1, jan.-abr., 2018, p. 53-89.
BRIGHT, Jonathan. Explaining the Emergence of Political Fragmentation on Social Media: The Role of Ideology and Extremism. Journal of Computer-Mediated Communication, nº 23, 2018, p. 17–33.
DANDEKAR, P. et al. Biased assimilation, homophily, and the dynamics of polarization. PNAS, Ithaca (NY), v. 110, n. 15, 2013, p. 5791 – 5796.
DANTAS, B. Religião e política: ideologia e ação da “Bancada Evangélica”na Câmara Federal. 2011. 350f. Tese (Doutorado em Psicologia) –Departamento de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2011.
DARMSTADT, A. et al. The Murder of Keira: Misinformation and Hate Speech as Far-Right Online Strategies. In: FIELITZ, M.; THURSTON, N. (eds). Post-Digital Cultures of the Far Right Online Actions and Offline Consequences in Europe and the US. Leipizig: DeutscheNationalbibliothek, 2018. p. 155 – 168.
DIBAI, P. Bolsonarismo on-line: “Com ou sem democracia, salvemos o capitão!”. Revista Tensões Mundiais: Fortaleza, v. 16, n. 30, p. 177-211, 2020.
________. A direita radical no Brasil: o caso de Jair Bolsonaro. 150f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Departamento de Ciência Política, Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2018.
FAUSTO NETO, A. Trajetos do corpo de uma mulher: construção e desmontagem de fake news na campanha digital de Jair Bolsonaro. In: CASTRO, P. C. (org.). Circulação discursiva e transformação da sociedade. Campina Grande: EDUEPB, 2018. p. 213 - 235.
ECO, H. Construir o inimigo. In: ______. O inimigo e outros escritos ocasionais. Lisboa: Gradiva Publicações, 2011.
GOMES, W. e DOURADO, T. O que são, afinal, fake news, enquanto fenômeno de comunicação política? In: ANAIS DO VIII CONGRESSO COMPOLÍTICA), Brasília, 2019. Disponível em http://ctpol.unb.br/compolitica2019/GT6/gt6_Dourado_Gomes.pdf.
GUNTHER, A. Biased press or biased public? Attitudes toward media coverage of social groups. Public Opinion Quarterly, Vol. 56, n.2, p. 147–167, 1992.
KALIL, I. (coord). Quem são e no que acreditam os eleitores de Bolsonaro. Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, [online], ou. 2018. Disponível em: <https://www.fespsp.org.br/upload/usersfiles/2018/Relat%C3%B3rio%20para%20Site%20FESPSP.pdf>. Acesso em: 05 mar. 2020.
LANGENBACHER, N. e SCHELLENBERG, B. (eds). Is Europe on the “right” path? Right-wing extremism and right-wing populism in Europe. Friedrich-Ebert-Stiftung Forum Berlin.
MESSENBERG, D. A direita que saiu do armário: a cosmovisão dos formadores de opinião dos manifestantes de direita brasileiros. Revista Sociedade e Estado, Brasília, v. 32, n. 3, 2017,p. 621 - 647.
MINKENBERG, M. The Radical Right in Postsocialist Central and Eastern Europe: Comparative Observations and Interpretations. East European Politics and Societies, Berkeley, v. 16, n. 2, 1998, p. 335 – 362
______. The Renewal of the Radical Right: Between Modernity and Antimodernity. Government and Opposition, Cambridge, v. 35, n. 2, 2000, p. 170– 188
_______. The radical right in Europe today: Trends and patterns in East and West. In LANGENBACHER, N. e SCHELLENBERG, B. (eds). Is Europe on the “right” path? Right-wing extremism and right-wing populism in Europe. Friedrich-Ebert-Stiftung Forum Berlin. Project ‘Combating right-wing extremism. Bonn: Bonner Universitats-Buchdruckerei, 2011.
MORAES, M. Verificamos: É falsa a capa da revista Charlie Hebdo que satiriza Lula e o STF. Revista Piauí, [online], 26 abr. 2019. Brasil. Disponível em https://piaui.folha. uol.com.br/lupa/2019/04/26/verificamos-stf-charlie-hebdo/. Acesso em 24/03/20.
MUDDE, C. The ideology of the extreme right. Manchester: Manchester University Press, 2000.
ORTELLADO, P.; SOLANO, E. Nova direita nas ruas?: uma análise do descompasso entre manifestantes e os convocantes dos protestos antigoverno de 2015. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, v. 7, n. 11, p. 169 – 180, 2016.
NORRIS, P. A tese da "nova clivagem" e a base social do apoio à direita radical. Opinião Pública, Campinas, Vol. 11, n. 1, mar 2005, p.1-32.
PERLOFF, R. A Three-Decade Retrospective on the Hostile Media Effect. Mass Communication and Society, 2015.
PIAIA, V. e ALVES, M. Abrindo a caixa preta: Análise exploratória da rede bolsonarista no WhatsApp. In: ANAIS DO VIII CONGRESSO COMPOLÍTICA, 2019, Brasília. Disponível em http://ctpol.unb.br/compolitica2019/GT2/gt2_Piaia_Alves.pdf
PINHEIRO-MACHADO, R. e FREIXO, A. Dias de um futuro (quase) esquecido: um país em transe, a democracia em colapso. In ________ (orgs). Brasil em transe: Bolsonarismo, nova direita e desdemocratização. Rio de Janeiro: Oficina Raquel, 2019.
PONTES, F. Decisão do STF sobre 2ª instância pode afetar 4,9 mil presos, diz CNJ. Agência Brasil [on-line], 16 out 2019, Brasil. Disponível em https://agenciabrasil.ebc.com.br/ politica/noticia/2019-10/decisao-do-stf-sobre-2a-instancia-pode-afetar-49-mil-presos-diz-cnj. Acesso em 25/03/20.
PRICE, V. et al. Normative and informational influences in online political discussions. Communication Theory, v. 16, 2006, p.47–75.
RECUERO, R. Disputas discursivas, legitimação e desinformação: o caso Veja x Bolsonaro nas eleições de 2018. Comunicação, Mídia e Consumo,
São Paulo, v. 16, n. 47, p. 432 - 458, 2019.
RISIUS, M. et al. Towards na understanding of conspiracy echo chambers on Facebook. In Proceedings of the 27th European Conference on Information Systems (ECIS), Stockholm e Uppsala: Sweden, June 8-14, p. 1 – 12, 2019.
RIBEIRO, A. e FÁVERO, B. Não é verdade que decisão do STF sobre segunda instância pode beneficiar 169,7 mil presos. Aos Fatos [on-line], 16 de out 2019, Brasil. Disponível em https://aosfatos.org/noticias/nao-e-verdade-que-decisao-do-stf-sobre-segunda-instancia-pode-beneficiar-1697-mil-presos/. Acesso em 25/03/20.
ROSSINI, P. Disentangling uncivil and intolerant discourse. In: BOATRIGHT, R. et al. (eds.). A crisis of civility? Contemporary research on civility, incivility, and political discourse. New York: Routlegde, 2019. p. 142 - 157.
SCHAIN, Martin et al (coord). Shadows over Europe: The Development and Impact of the Extreme Right in Western Europe. New York: Palgrave MacMillan, 2002.
SCRIVENS, R. Understanding the Collective Identity of the Radical Right Online: A Mixed-Methods Approach. 2017. 300 f. Tese (Doutorado em Filosocia) – School of Criminology, Simon Fraser University, Burnabay, 2017.
SOLANO, E. Crise da democracia e extremismo de direita. São Paulo: Friedrich-Ebert-Stiftung - Brasil, 2018.
SUNSTEIN, C. Echo Chambers. Princeton: Princeton University Press, 2001.
______. Going to extremes: how like mind unite and divide. New York: Oxford University Press, 2009.
TELLES, H. Corrupção, legitimidade democrática e protestos: o boom da direita na política nacional? Revista Interesse Nacional, Ano 8, n. 30, Jul-Set, 2015.
TELLES, H. Corrupção, legitimidade democrática e protestos: o boom da direita na política nacional? Revista Interesse Nacional, Ano 8, n. 30, Jul-Set, 2015.
TOSTES, A. Razões da Intolerância na Europa Integrada. DADOS: Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 52, nº 2, 2009, p. 335 a 376.
TUCKER, J. A. et al. Social Media, Political Polarization, and Political Disinformation: A Review of the Scientific Literature. [s.l.]: Hewlett Foundation, 2018. VALLONE, R. et al. The hostile media phenomenon: Biased perception and perceptions of media bias in coverage of the Beirut massacre. Journal of Personality and Social Psychology, vol. 49, p. 577-585, 1985.
WOJCIESZAK, M. False consensus goes online impact of ideologically homogeneous groups on false consensus. Public Opinion Quarterly, v. 72, n. 4, 2008, p. 781–791. __________. Computer-Mediated False Consensus: Radical Online Groups, Social Networks and News Media. Mass Communication and Society, Pennsylvania, n. 14, 2011, p. 527 – 546.

Downloads

Publicado

2021-11-03

Como Citar

Dibai, P. C. (2021). “Mesmo solto, Lula nunca será livre”:: o cerco ao inimigo em grupo bolsonarista no Telegram. Compolítica, 11(1), 5–26. https://doi.org/10.21878/compolitica.2021.11.1.452